Thursday, August 10, 2006

A Bela!... sem cor

Viver sempre tambem cansa!

Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima, os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe, automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas por mim, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com o teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...

José Gomes Ferreira (1900 - 1985)

ou VIVER TODOS OS DIAS CANSA...
como dia o Pedro…
com PAIXÃO

Tuesday, August 08, 2006

O Futuro




Ontem pôs-se o Sol, e a Lua
girou no seu oco céu.
Nunca tão breve noite, dia
vieram para mim.

Hoje pôs-se a Lua, e o Sol
logo caiu no ocaso.
Ainda mais rápidos os astros
vieram para mim.

Como serão noites, dias
do tempo de amanhã?
Um único momento imenso,
o meu futuro?

Fiama Hasse Pais Brandão

in O Futuro em anos-luz, Quasi edições